Tuesday, September 15, 2009

O Menino

O sino da pequena Igreja tocou às 5 da manhã, acordando o povoado inteiro. O sol já começa a preparar o novo dia. As folhas e flores orvalhadas se despendem da madrugada fria e esperam ansiosas os primeiros raios de sol. O menino, ainda sonolento, caminha com seus passos lentos em direção ao ponto do ônibus que o levará até a escola. Ele não sabe ao certo porque tem que ir. Preferiria estar em casa, ou na rua, correndo nas calçadas e becos, conversando com o verdureiro, com o moço da mercearia, jogando bola com os amiguinhos e assoviando pra menina que lhe faz sentir o coração bater mais forte, cada vez que lhe sorri daquele jeito tímido e encantador.

“Não sei para quê que inventaram Escolas”, pensa o menino. Ele tem apenas 8 anos e nem aprendeu ainda a fazer a conta de quantos anos ainda tem que ir à escola até tornar-se o que seus familiares querem que ele seja. Na verdade ele nem sabe o que é que eles querem que ele seja. Não está preocupado com isso, o futuro parece algo tão distante, tão incerto. Tudo o que ele sabe não cabe dentro de um amanhã, é suficiente para encher de vontade de viver o agora, de correr pelas ruas, de banhar-se no rio, de colher os frutos maduros da goiabeira e de assoviar pra menina dos seus sonhos.

Na noite passada ele viu na TV soldados morrendo na guerra, tempestades destruindo cidades inteiras, fogo devorando campos inteiros, crianças de olhares tristes chorando a falta da Mãe que não voltou pra casa com o pão que prometeu. “Pra que escola”, pensa de novo o menino... Ele lembra muito mais das histórias contadas pelo avô, pelo guarda da praça, pela mulher que ajuda sua Mãe nos afazeres da casa, do que das lições de sua linda e adorável professora. Ele se entusiasma muito mais vendo o rio a correr, os pássaros a voar, as flores a desabrochar, a árvore a oferecer gratuitamente seus deliciosos frutos...do que com os deveres de matemática, de ciências e de todas as demais matérias ensinadas pelas lindas e adoráveis professoras.

O ônibus chega, o menino volta à realidade, chega à escola e ao entrar na sala avista as mesmas carteiras enfileiradas, o quadro-negro ao centro da parede da sala, a linda e adorável professora e seus colegas, todos eles com a mesma cara de bobo que ele viu, ao acordar, no espelho de sua casa, ao preparar-se para ir à escola.

Um dia quando eu crescer, pensa o menino, vou ficar em casa o dia inteiro. Vou brincar com meus amigos, correr pelas ruas e becos, vou banhar-me no rio, vou ouvir as histórias do meu avô, do homem da mercearia, da moça que ajuda nos afazeres lá de casa. Vou colher os frutos da goiabeira, cantar com os pássaros e assoviar pra menina de riso bonito que me encanta com seu doce olhar... Ah, mas não vai ter a mesma graça...já não serei mais o que eu queria ser: Um menino!

E volta pra casa, cansado e com mil deveres pra fazer.

ABrito - 2009

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