Saturday, November 14, 2009

Vou escrever uma história
sem interrogações, sem reticências…
Será um texto longo, com milhares de par
ágrafos e pontos finais.
Cada parágrafo, fim e recomeço, contará outras histórias,
pedaços de vida plenos de risos e de lágrimas, mas muito mais de risos.
Uma história com início bem definido
e sem final, para não ter que ser feliz ou triste.
Uma história apaixonante, com cheiros e sabores,
janelas abertas e portas hermeticamente lacradas
para fazer sofrer os curiosos… por não poderem abri-las,
e fazer rir os de almas limpas e livres.
Uma história que poderá ser lida por qualquer um
mas entendida somente por poucos,
por aqueles que entendem a verdadeira linguagem
dos desertos e suas miragens,
das estrelas e do mar,
da cor azul das misteriosas cavernas
e suas secretas passagens
que revelam a luz
e a cachoeira
de águas prateadas.

By ABrito

Thursday, November 12, 2009


Esta foto foi tirada, da janela do meu quarto, no meu primeiro dia em Nova Iorque, Estados Unidos .

Este foi também meu primeiro contato com a neve e algo muito interessante aconteceu. Neste dia, 10 de fevereiro de 2006, foi registrada a maior tempestade de neve dos últimos 20 anos na Cidade de Nova Iorque, 14 polegadas! Em geral as tempestades de neve aqui não ultrapassam 3, 4 polegadas. Foi de fato um lindo espetáculo. A mãe natureza me recepcionou muito bem, senti-me privilegiada!

Lembro que diante dessa janela, misturado ao encanto da visão prateada do inverno, eu perguntava a mim mesma: O que estou fazendo aqui? Que idéia maluca essa de vir morar tão distante do meu povo? E não sei traduzir bem o sentimento experimentado naquele momento, um misto de excitação e medo diante do novo e totalmente desconhecido.

Eu não falava inglês, as poucas palavras que eu sabia pouco me ajudavam e, na verdade, eu não “morria de amores” pelos Estados Unidos. Mas aqui estava eu, por livre e espontânea vontade.

Já se passaram quase quatro anos e continuo aqui, num Outono lindo antecipando mais um inverno frio que esta quase chegando, e com o espírito em plena primavera! Quase não acredito como o tempo tem passado rápido e como eu tenho facilmente me adaptado a esta totalmente nova experiência de vida.

Na verdade sou de fácil adaptação. Já morei, no Brasil, em diferentes cidades, além do Estreito - o Sitio onde me sinto orgulhosa de ter nascido - e em cada lugar me senti bem, adaptada, feliz. Aqui em Nova Iorque não está sendo diferente, neste sentido.

Gosto da Cidade, da pluralidade cultural, da beleza de cada estação, do Povo Americano, especialmente nossas Irmãs de Congregação. Não fosse o amor imenso que sinto por minha família, o que me faz sentir muita saudade, eu poderia viver aqui para sempre. Mas pelas experiências de vida, acumuladas do decorrer dos tempos, para sempre não consta no dicionário da minha vida! Eterno mesmo, para mim, só o Amor de Deus e a vida após esta por Ele prometida.

Não sei se terei uma vida longa, sou meio convencida que não, embora não deseje isso, mas mesmo que não tenha não poderei reclamar. Tudo o que eu tenho vivido tem me trazido muitas alegrias e sinto-me realizada e feliz como ser humano. Tenho aprendido muito com minhas experiências de vida, mesmo aquelas que resultaram em dor, e sei que tenho muito ainda a aprender e a partilhar.

Através das janelas dos meus dias quero ter a graça de ainda poder contemplar muita beleza, onde quer que eu esteja.

Deverei retornar em breve ao meu Pais, até lá tentarei viver aqui cada instante como se fosse o ultimo. Aliás, tenho me convencido cada dia mais da importância de se viver em plenitude cada momento que a vida nos oferece, pois estes passam e não retornarão jamais da mesma forma. Tenho aprendido também que não vale mesmo a pena guardar memórias que não nos façam felizes quando relembradas ou alimentar qualquer ressentimento prejudicial à nossa felicidade e que as pessoas que verdadeiramente nos amam, mesmo distantes geograficamente, não se fazem distantes e nunca, nunca nos abandonarão. E, nesse sentido, acredito na palavra jamais.

Que outras janelas me mostrem outras paisagens ou quem sabe as mesmas, revestidas de um novo tecido.

By ABrito – Novembro, 2009


Wednesday, November 11, 2009

“Amai os vossos inimigos”

Algumas pessoas costumam dizer: “Desejo aos meus oponentes o dobro do que eles a mim desejam, inclusive o mal” . Ou ainda, “Deus lhe dê em dobro tudo o que a mim deseja, inclusive o mal”.

Um dia, falando aos discípulos Jesus os questionou: “Se um filho pede ao pai um pão, o pai não lhe dará uma pedra (Mt 7, 9); se pede um peixe, não lhe dará uma serpente; se pede um ovo, não lhe dará um escorpião. "Pois, se vós que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu vos dará se o pedirem?" (Lc 11, 11-13).

Deus jamais faria mal a alguém. Ele é Amor e o Amor não deseja o mal, não faz o mal, não promove o mal. Pedir a Deus que aja a partir da nossa lógica e esperar que Ele “castigue” alguém que algum mal nos fez é desconhecer completamente a lógica do Amor, que ao sentir-se ferido apresenta a outra face, isto é, retribui com o bem.

Acontece que tudo na vida é consequente. Tudo que fazemos retorna a nós de alguma forma, não porque Deus manda de volta, mas como consequência do nosso livre arbítrio. Se fazemos o Bem, este retornará a nós; se ao contrario, fazemos o mal, este também retornará a nós de alguma maneira.

Mesmo quando a pessoa atingida não retribui com uma ação má, porque o mal por si mesmo é autodestrutivo ressoará na consciência de quem o cometeu, às vezes para sempre, como resposta a sua ação. E somente quando a pessoa perdoa a si mesma é que liberta-se, enfim, do sentimento de culpa que a atormenta, sentindo-se também livre para pedir ao outro o perdão.

Fico sinceramente indignada quando ouço alguém dizer isso ou quando diante de uma catástrofe, tentando confortar a quem sofreu a perda, diz: “Conforme-se, Deus quis assim.” Melhor que tal pessoa não dissesse nada , seu silêncio daria mais conforto e evitaria tão absurda afirmação. Por que atribuir a Deus as consequências das ações humanas? Deve-se responsabilizar quem de fato as cometeu, quem as procurou, quem as favoreceu. Não culpemos Deus por nossas insanidades e irresponsabilidades! Isso sim, acredito ser pecado.

Façamos o Bem. Desejemos o Bem, mesmo a quem nos deseja o mal. Ofereçamos ao outro o que de melhor somos e temos (“oferecer a outra face”). Isso, na verdade, é o que traduz o "Amai os vossos inimigos” (Mt. 5. 43). Deus não exige que nos submetamos à perversidade de quem nos machuca, o que Ele nos pede é que não deixemos que o outro determine as nossas ações ou reações, retribuindo com a mesma moeda. Se o que o outro tem é lixo, ofertemos-lhe flores em troca, quem sabe assim ele as prefira da próxima vez.

“Paz não significa ausência de guerra”...Paz significa vivência do Amor!

By ABrito, 2009

Thursday, November 5, 2009

Caminhão de Mudança

(Jessier Quirino)

Vai pela Estrada um caminhão repleto de mudança

Levando a herança de herdeiros de poucos herdados:

Os engradados de uma cama finalmente em pé

Arca e Noé prisioneiros desse estaqueado.

Encaixotados os tecidos, mimos e quebráveis.

E os incontáveis cacarecos soltos, remexidos.

Dois falecidos num retrato olham pra paisagem…

Guardando imagens e lembranças dos seus tempos idos.

Um velho espelho já trincado mostra o azul do céu

E o mundaréu ensolarado se faz de carona

Uma meia-lona sobreposta com o melhor arrojo

Se faz de estojo pra relíquia da velha sanfona.

Uma poltrona escancarada de pernas pra cima

Fazendo esgrima com cadeiras, bancas e tramelas

De sentinela a dois pilões de bojo carcomido

E um retorcido pe de bucha de flor amarela.

Em dois colchões almofadados dorme a bicicleta

E duas setas de uma caixa mostram dois achados:

Um emoldurado de retrato com um Jesus sereno

E o ultimo aceno de saudade de um cortinado.

Desbandeirado segue o carro rumo ao seu destino

Um peregrino pitombado de grande esperança

Vai, na boleia, um passageiro carregando sonhos

Vai, na traseira, dez carradas de velhas lembranças.

Tuesday, November 3, 2009


Árvores secas
Dias cinzentos
Olhares tristes
Túneis escuros,
Sem luz no fim.
Passos perdidos
Sem direção
Na contramão da vida.
Vidas secas
Mentes torpes
Vidas mortas
Linhas tortas… sem nada escrito.
Braços cruzados
Mentes vazias
e insencíveis…
Mãos estendidas
Vidas famintas
Sorte esquecida
Jogo perdido
sem vencedor.
Nuvens escuras
Incendiárias
Ventosidade
Fogo no ar
Corpos tombados
Lágrimas
Dor.
Ponto final
Exlamação
Vidas correndo
Em outras mãos
Vida sobrando
Vida de menos
Interrogação.

(ABrito-2009)