Sunday, February 22, 2009

A Vida é um rio
e tem a pressa da correnteza.
Como um rio avança,
flui, num doce ou amargo inundamento...
Minha vida é um rio
E eu, navegante,
Tomo meu barco
Minha bússola
E um par de remos...
Se forças ainda tenho
Tenho que remar ainda mais
Antes que o tenebroso inverno
Aumente o volume das águas e
me leve à deriva...
Minha vida é um rio
Sem afluentes
Um rio que corre
Entre montanhas de pedras
Entre barreiras de fogo
Entre blocos de gelo
Um rio que me leva até a solitária ermida
Do meu sonho de liberdade
Numa terra habitada por monstros
De longas asas e de olhos fumegantes
Que se disfarçam de mansos cordeiros
Para mais facilmente suas presas devorarem..
Minha vida é um rio
Que contornando os barrancos
Descobriu sua vertente
E aprendeu, feliz, o caminho do Mar...

ABrito-2006

Wednesday, February 11, 2009


Lua e Mar
e uma ponte invisível
encurtando a distância
entre o provável e o impossível.
E no espaço entre um e outro
eu a esperar
a luz das estrelas se acenderem.
AB/2009

Sunday, February 1, 2009


Existem paisagens que nunca iremos contemplar. São tantas que não cabem na inteira duração de uma vida. Ja vi tantas, algumas guardo na memória, outras se extinguiram com o tempo, por falta de cor ou falta de ressonância.
Imagens suscitam lembranças, recuperam memórias, transportam-nos através do tempo de volta a tempos julgados esquecidos. Revivem e atualizam momentos como se nunca tivesse passado um segundo depois de acontecidos. É a mágica que acontece quando o fértil terreno do coração produz na mente os abundantes frutos da saudade.
São experiências de uma vida inteira, que muitas vezes duram tão pouco, mas se perpetuam, se imortalizam.

Conheci um homem, um santo homem, D.Nivaldo Monte, que entendia muito bem e com uma peculiar sensibilidade a beleza e o siginificado das pequenas coisas. Em suas homilias sempre nos trazia à memória, imagens e retratos da vida, como da pequena flor silvestre que nasce e cresce nos campos sem que ninguém delas cuide e que enfeitam os caminhos trazendo alegria a tantos viandantes cansados e sofridos. Da dança da palma de coqueiro, embalada pela música do vento, a trazer uma incontida alegria a quem deixa-se por ela acalentar . Do sorriso puro da criança inocente que transforma em paz a angústia de um coração inquieto e sofredor. Do olhar silencioso do Amigo que nos aquieta a alma e nos restaura a esperança. Sua linguagem poética sempre tocou fundo a minha alma e me levou a contemplar a grandeza de Deus nas coisas mais simples. Ele era um Poeta do Amor de Deus e suas palavras, gestos e ações tinham a cor do mar, o brilho das estrelas e o perfume dos jardins do Céu.

Todas essas imagens, plenas de significado, dão sentido a nossa existência e ressoam pela nossa vida afora. Ficam registradas para sempre e se projetam em todas as outras imagens, cada vez que contemplamos uma nova paisagem.

Hoje eu vi através de uma enorme janela de vidro um jardim multicolorido, com folhas pelo chão, formando um lindo tapete. Embaixo de uma frondosa árvore de folhas vermelhas, um velho e gracioso banco...e eu pude ver e ouvir, numa paisagem de outrora, nossas vozes, nossos risos, depois nossos passos indo apressados e cheios de esperança ao encontro do futuro, que nos separou para sempre.

E não há dor ou tristeza nisso tudo. Algum arrependimento, talvez. Um pensamento de que esta ou aquela escolha poderia ter sido feita numa direção diferente. Mas o que vale é a vida que temos, a vida que construímos a partir dessas escolhas. Tudo valeu a pena?Sim, eu diria, valeu, mesmo se houve penas. O que se constrói em terreno sólido e seguro, e o que se esboça num chão de giz, em dia de chuva e de vento... Tudo, absolutamente “tudo vale a pena se a alma não é pequena” como disse o poeta Português.

A ausência de tantas paisagens que nunca iremos contemplar nos privarão de sua beleza e encantamento, além das lindas memórias que continuarão guardadas, mas nos pouparão por certo de algumas contritas lembranças e de saudades que nos seguirão por toda a vida.

ABrito – NY, Outono 2007