Saturday, September 26, 2009

Essas velhas ruínas já foram um lar.

Já abrigaram pessoas felizes. Já foi escola. Já foi espaço onde a poesia enfeitava as noites, à luz da lua e das estrelas. Essas ruínas já abrigaram sonhos e guardaram segredos.

Já foram a nossa Casa, o aconchegante lugar onde eu nasci e onde todos nós crescemos.

Era uma casa bonita, grande, de paredes sólidas e altas. Para mim a mais bonita de todas, lugar onde nos sentíamos seguros, ao lado dos nossos Pais.

Nossa casa estava sempre cheia de gente. Além dos primos que moravam conosco ou vinham nos visitar vez em quando, havia sempre algum outro parente, amigo, vizinho ou vizinha a nos fazer companhia.

Era de verdade o lugar onde havia alegria, onde nos sentíamos felizes.

Hoje nada mais existe, nem mesmo as ruínas. Esta unica parede nao suportou mais, a velha Casa despediu-se da vida, ao despedir-se de nós. Sentiu-se só, como se sentem sós as pessoas ao verem os amigos partirem, e não resistindo às intempéries, desabou.

São muitas lembranças, memórias que serão guardadas para sempre e revividas cada vez que recordamos os anos que ali vivemos. Essas lembranças não serão destruídas. Enquanto existirmos, estarão conosco. São raras, preciosas, indestrutíveis, pelo valor que guardam em si mesmas. Elas representam a história da nossa Vida, da nossa Família.

Neste lugar, antes nosso Lar, aprendemos com nossa Mãe que também foi nossa primeira Professora, a desvendar o universo das palavras e das ciências. Aqui nossos Pais semearam em cada um de nós sementes de Vida, de Sabedoria e de Fé.

No alpendre da casa ou à sombra da velha tamarineira a nossa avó materna aguçava a nossa curiosidade infantil, contando-nos histórias do passado. Ainda hoje lembro o brilho dos seus olhos e o inconfundível cheiro do seu cachimbo. Guardamos dela doces lembranças.

Recordo cada momento que ali vivi. Posso ainda ouvir os sons, o tom das vozes, ver as cores, sentir o cheiro das frutas frescas na cozinha ou no armazém; o cheiro do queijo feito todos os dias e guardado na despensa; o cheiro dos animais que pastavam ao lado, no terreiro da casa.

Essa Casa foi o lugar onde tudo o que somos começou a existir, e lá nossa lembrança retornará sempre, pois ali estarão para sempre as nossas raízes.

Assim entendo que mesmo quando tudo está aparentemente destruído, quando já não existe um sinal sequer de algo que já foi concreto, é possível se reviver tudo e sentir de novo a mesma alegria de antes.

Se de fato, alguma coisa teve significado e fez diferença na nossa vida, nunca será esquecida. Nada será capaz de destruir a memória dos tempos felizes.

Essas memórias ficam entranhadas na nossa carne, no nosso sangue e mesmo se perdermos a noção de tudo elas continuarão circulando nas nossas veias, alimentando nosso espírito até que também não haja um único sinal de nós, na terra onde um dia existimos.

ABrito-Setembro 2009

Wednesday, September 23, 2009

Moço engraçado

Do nariz vermelho

Através do espelho

Que o mundo contempla

Cria, reinventa,

Uma nova alegria

E assim cada dia

Renova-se por dentro

Sem contar o tempo

Que tem pra viver.

Praticando o “ócio

da imaginação”

No “circo da vida”

foge ao padrão

do senso comum…

Em frente ao balcão

Seu livre pensar

Fecunda a razão

E espalha no chão

Sementes de Vida.

Moço iluminado

Que um dia entendeu

Que pra ser feliz

Precisa esquecer-se

E nos outros pensar…

Pois felicidade

Só tem quem aprende

Do outro cuidar.

No circo da vida

Isso chama-se: Amar!

By ABrito – Setembro 2009

Ao Palhaço Iluminado, Kin . Em antecipação ao dia que não precisa ser celebrado num só dia!

Sunday, September 20, 2009

Chega o outono, a estação multicolorida, de clima ameno e ventos brandos.

Os dias longos de verão se tornam mais curtos, embora ainda cheios de brilho, e agora de cores.

Uma beleza cujo esplendor não durará mais que poucos dias, quando enfraquecidas e amareladas as folhas todas cairão, mas suficiente para dar uma festa ao olhar cada vez que a contemplamos.

Vale a pena caminhar pelas ruas, estradas e parques banhando os olhos na mais original pintura nunca antes produzida em outra tela que não seja a face da natureza.

É delicioso sentar-se no banco de uma praça observando a dança das folhas ao caírem , formando um imenso tapete onde repousará a saudade, fruto de tantas e tantas lembranças de um verão que passou.

É prazeroso perceber a delicadeza com que o vento toca os galhos das árvores, como que roubando-lhe um beijo, ganhando em troca as douradas folhas com as quais ornamentará o chão por onde passar.

O vermelho-alaranjado das folhas dá um tom de realeza à natureza vaidosa, que ao contemplar-se no espelho das águas deixa realçar o lirismo de sua poesia e do seu encantamento.

O esplendor das folhas, a delicia dos frutos, a suavidade do clima, escondem a sua fragilidade ao preparar-se para o inverno com seus dias escuros, frios e melancólicos e transformam a perda em gesto de total despojamento e doação, a nos ensinar que nas perdas muitas vezes estão escondidos ganhos.

Ao perderem as folhas, as árvores desnudas estarão prontas para receberem os ventos frios, a neve e o gelo que lhe adornarão os galhos até a primavera.

É a natureza pronta para um novo ciclo de renovação. É a vida a atualizar-se, acolhendo o novo, o diferente, o inevitável.

Que as cores e os sabores outonais reavivem nosso desejo de viver a intensidade e a plenitude de cada momento, como se o para sempre nunca tivesse fim.


ABrito-2009

Friday, September 18, 2009

Meus escritos são meus pensamentos desenhados no papel.

Nem sempre encontro as palavras exatas para traduzi-los, mas nem sempre há exatidão em tudo… Existe significado também nas entrelinhas…

São textos simples, não poderia ser diferente, pois a simplicidade é parte de mim e está entranhada na expressão do meu ser, em minhas virtudes e em minhas imperfeições.

Não me inspiro na religião, na teologia e não faço desse espaço o meu espaço de oração. Minha relação com Deus não cabe em palavras, é algo muito especial que se concretiza na sintonia do meu coração com o coração de Deus. São experiências muito pessoais, escritas com letras invisíveis...

Também não tenho receitas, nem as quero. Deus já nos revelou claramente que Ele é o “Caminho, a Verdade e a Vida” e esta é a Verdade em que acredito. Não creio na mágica das correntes. Tenho meu jeito próprio de expressar minha fé.

Religião e Teologia deixo por conta dos estudiosos dessas áreas, que inspirados por Deus cumprem a sua missão. Não me arvoro em querer explicar os mistérios da Fé. Para mim, viver e testemunhar o que creio me basta.

Também não me envolvo com questões de ordem política, muitas pessoas já o fazem e muito bem. Preservo minha sanidade e voto em quem acredito. Atribuo à falta de educação política do nosso Povo as consequências decorrentes da escolha de políticos corruptos, descomprometidos com o bem da sociedade. Todos vemos os resultados e mesmo assim continuamos mantendo, com o voto que por sinal é livre, um sistema extremamente cruel, injusto e desonesto.

Basta olharmos o Senado, por exemplo, quantos escândalos, previsíveis, pois lá são colocados alguns políticos que já demonstraram sua “performance” em cargos anteriores.

Por isso e mais que isso me dou o direito de não me envolver nesse lamaçal, sem me sentir omissa ou descomprometida com os meus princípios e valores existenciais.

Preservo ao menos a minha paz interior e assim consigo manter a alegria de ser, de viver e de conviver.

O que penso e escrevo, portanto, são traços do que eu sou: Imperfeita, incoerente, mas o que Sou, simplesmente.

By ABrito-2009

Tuesday, September 15, 2009

O Menino

O sino da pequena Igreja tocou às 5 da manhã, acordando o povoado inteiro. O sol já começa a preparar o novo dia. As folhas e flores orvalhadas se despendem da madrugada fria e esperam ansiosas os primeiros raios de sol. O menino, ainda sonolento, caminha com seus passos lentos em direção ao ponto do ônibus que o levará até a escola. Ele não sabe ao certo porque tem que ir. Preferiria estar em casa, ou na rua, correndo nas calçadas e becos, conversando com o verdureiro, com o moço da mercearia, jogando bola com os amiguinhos e assoviando pra menina que lhe faz sentir o coração bater mais forte, cada vez que lhe sorri daquele jeito tímido e encantador.

“Não sei para quê que inventaram Escolas”, pensa o menino. Ele tem apenas 8 anos e nem aprendeu ainda a fazer a conta de quantos anos ainda tem que ir à escola até tornar-se o que seus familiares querem que ele seja. Na verdade ele nem sabe o que é que eles querem que ele seja. Não está preocupado com isso, o futuro parece algo tão distante, tão incerto. Tudo o que ele sabe não cabe dentro de um amanhã, é suficiente para encher de vontade de viver o agora, de correr pelas ruas, de banhar-se no rio, de colher os frutos maduros da goiabeira e de assoviar pra menina dos seus sonhos.

Na noite passada ele viu na TV soldados morrendo na guerra, tempestades destruindo cidades inteiras, fogo devorando campos inteiros, crianças de olhares tristes chorando a falta da Mãe que não voltou pra casa com o pão que prometeu. “Pra que escola”, pensa de novo o menino... Ele lembra muito mais das histórias contadas pelo avô, pelo guarda da praça, pela mulher que ajuda sua Mãe nos afazeres da casa, do que das lições de sua linda e adorável professora. Ele se entusiasma muito mais vendo o rio a correr, os pássaros a voar, as flores a desabrochar, a árvore a oferecer gratuitamente seus deliciosos frutos...do que com os deveres de matemática, de ciências e de todas as demais matérias ensinadas pelas lindas e adoráveis professoras.

O ônibus chega, o menino volta à realidade, chega à escola e ao entrar na sala avista as mesmas carteiras enfileiradas, o quadro-negro ao centro da parede da sala, a linda e adorável professora e seus colegas, todos eles com a mesma cara de bobo que ele viu, ao acordar, no espelho de sua casa, ao preparar-se para ir à escola.

Um dia quando eu crescer, pensa o menino, vou ficar em casa o dia inteiro. Vou brincar com meus amigos, correr pelas ruas e becos, vou banhar-me no rio, vou ouvir as histórias do meu avô, do homem da mercearia, da moça que ajuda nos afazeres lá de casa. Vou colher os frutos da goiabeira, cantar com os pássaros e assoviar pra menina de riso bonito que me encanta com seu doce olhar... Ah, mas não vai ter a mesma graça...já não serei mais o que eu queria ser: Um menino!

E volta pra casa, cansado e com mil deveres pra fazer.

ABrito - 2009

Friday, September 11, 2009

Monday, September 7, 2009


Pra te fazer feliz

te mando flores

e borboletas azuis

meu sorriso desperto

e o orvalho da primeira manhã de Setembro...

ABrito - 09/09

Wednesday, September 2, 2009

O Rio

Rio que banha meus olhos

E que faz transbordar em mim

Minhas travessas memorias…

Rio cujas aguas sinto lavar minha alma, quando em seu leito me deleito,

ao deslizar, sobre o espelho de suas aguas,

O barco dos meus sonhos.

Rio que ao renovar-se a cada instante

Por um instante me recorda que assim devo ser.

Rio que me entretem em minhas horas vagas,

suavizando o peso dos dias e

devolvendo ao meu corpo cansado a energia emprestada ao tempo.

Rio que me faz lembrar, feliz , outros rios…

os rios da minha infancia a milhas e milhas daqui.

ABrito – 2009 (Ao caminhar a margem do East River)